quarta-feira, 10 de junho de 2009

De sensibilidade e Santos Dumont

Nas horas em que acontecem tragédias como a que ocorreu com o avião da Air France, fico pensando no que sentiria o sensível Santos Dumont. Já havia sofrido com outros acidentes que viu acontecer com aviões originados de sua invenção. Sofreu mais ainda com o uso de outras aeronaves na Primeira Guerra e na Revolução de 30. Imagina se visse, então, o uso da máquina na Segunda Guerra, na Guerra do Vietnã, nos conflitos do Oriente Médio? E as várias tragédias que se seguiram e as muitas guerras? Se o mundo fica triste com isso tudo, imagina o inventor do avião?
Sou radicalmente contra suicídio, mas confesso que, para o pequeno e genial Santos Dumont, viver muito não seria tão bom. Ele veria tantas e tantas coisas tristes acontecerem associadas ao avião. Se Santos Dumont fosse outro tipo de ser humano, se não se importasse com o restante da humanidade, se só pensasse em se enriquecer, seria outra a história.
Mas a vaidade de Santos Dumont era diferente. Era voltada para a inteligência. Ele se envaidecia em ser reconhecido pelo invento genial e por saber que aquela máquina iria revolucionar o mundo. Torrava todo o dinheiro que tinha (de família) e ganhava (com seus muitos prêmios) em cima das invenções, muitas das quais deram errado. Mas era com isso que ele se engrandecia e se satisfazia.
Pena que, em muitas situações, junto com o bom, levamos também o mau. Para consolar (se for possível), a saída é tentar pensar nos muitos benefícios que o avião proporcionou e proporciona. Santos Dumont, no auge de sua sensibilidade, não conseguiu pensar assim. Mas, diante de todas as possibilidades que sabemos vir da existência das aeronaves - viagens, apoio humanitário, transporte de mercadorias, ligação entre os povos, para falar de alguns -, o saldo dos aviões é positivo, apesar das tragédias, das mortes e das guerras em que ele esteve e estará envolvido.