segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O sexismo nosso de cada dia


Era uma turma de amigos muito queridos. Todos falamos sobre todos assuntos, as mulheres sempre expressam seus sentimentos, suas histórias, suas opiniões sobre todos os assuntos normalmente, em quase todos os encontros. A turma fixa é de quatro mulheres e três homens, mas, no final de semana tratado aqui, havia de cinco a seis homens a mais e quatro mulheres a mais – essas pessoas de acréscimo eram flutuantes, então, não dá para contar muito. Foi uma confraternização em um sítio, de sexta à noite a domingo à tarde.
Churrasco, piscina, cerveja. Todo mundo se divertindo, contando caso, rindo à toa. Todos felizes. Pega copo, suja copo. Pega prato, suja prato. Pega faca, garfo, colher, suja tudo em seguida. Vai tudo para a pia. Quem vai lá para lavar? As mulheres. Em nenhum momento, os homens se ofereceram para lavar. Quem foi para o fogão para fazer o almoço de sábado? As mulheres. Só um dos rapazes é que se atreveu a ajudar a picar uns legumes para o vinagrete. Quem cuida de limpar e arrumar a mesa para servir o almoço? Mulheres. Por outro lado, quem foi para a churrasqueira? Os homens. Quem comprou a cerveja? Os homens. Quem cuidou de limpar a piscina? Os homens. Quem ficou com o controle do som? Os homens.
É um exemplo bobo isso, corriqueiro, do qual eu, você, todos participamos, mas que demonstra ainda como as tarefas são divididas de forma sexista. Por que os homens não podem ajudar a lavar as vasilhas? Por que as mulheres não podem se responsabilizar pelo churrasco? É humilhante para o homem ir para a cozinha? É uma afronta a mulher ir para o churrasco?
De certa forma e sem ser feminista, essa divisão das tarefas reforça uma estrutura patriarcal, que a gente até tenta, mas tem dificuldade em mudar. É muito sutil e, acredito, não é uma ação intencional. Quem está agindo assim não está sendo machista, está como se seguindo um fluxo natural. Existem poucas exceções, mas, como a palavra diz, é exceção. Nessa estrutura, as mulheres ficam nos bastidores, fazem o serviço "menor", que não aparece, escondidas na cozinha. Quem faz a linha de frente, o que aparece, o que tem contato com o externo é o homem.
É estranho e mais estranho ainda é como a gente participa automaticamente disso, como se fosse uma regra inviolável. As mulheres simplesmente vão para a cozinha, e os homens, para a churrasqueira. Nós, as mulheres, não deixamos de ser cúmplices nesse processo. Ajudamos a manter essa estrutura. Mesmo sem querer. E penso que a gente não queria que fosse assim ou que continuasse sendo assim.