domingo, 11 de novembro de 2012

Assinado A.

Eu sou fluido, sem linhas, cortes, quadrados, formas. No máximo, o que você encontra em mim são curvas. Às vezes, preciso delas para dar voltas e voltas nas pessoas. Sou arteiro. Bem, não sei se é exatamente isso, mas prego peças. Eu acredito que nunca é com má intenção, mas isso as pessoas não entendem. Meus tiros saem pela culatra com frequência. Desde que o mundo é mundo é assim. Mas, repito, não é por má intenção. Já disse. É tentando fazer o melhor.
Rio de pessoas que tentam me racionalizar. Ah, bobinhos. Querem me colocar em planilhas, fórmulas, metragens. Excel para mim? Bobagem. Nem gosto do Excel. Parece até que sou um plano de carreira: preciso de desafios, metas, obrigações, prazos, conquistas... Rio mesmo. Quando é assim é que dou voltas no indivíduo. A matemática, a física (nem a quântica), a química e a biologia não me explicam. A biologia só explica parte do que vai comigo. Mas essa parte também ocorre semigo (apesar de que, quando é comigo, é muito melhor, hehe...). No fundo, gosto de ser assim, de deixar as pessoas pensando em mim, porque, se não, que graça tem a vida? Imagine o mundo sem a minha presença, sem que as pessoas se preocupem comigo? Ah, não, não teria graça. Viu como sou importante?
O mais engraçado dessa história toda é que estou tão em tudo e, ainda assim, há pessoas que não me veem, não me reconhecem. Ou, para falar a verdade, tem vez que falta eu desenhar para a pessoa me ver! Apareço lindo e nítido na frente dela e nada. Poxa, isso, sim, me chateia. Porque eu sei que sou difícil em muitos casos, mas juro que tento dar uma forcinha em outros. Forcinha nada! Dou os dois braços inteiros! Fico chateado quando não percebem. Aí, me canso e vou embora. É triste, não? Também acho. Mas o que eu vou fazer se eu quis e a pessoa, não? Nada. Melhor: deixar para lá. Vou é atrás de outra. Ir daqui para ali é uma alegria. Me deixa vivo.
Eu vejo que hoje as pessoas estão descrentes de mim. Mas não queria que ficassem. Se as pessoas não se encontram, não é culpa minha. É por causa deste mundo que aí vai. Está tudo esquisito. Também acho, mas eu não perco a fé. Eu não. Continuo meu trabalhinho de passarinho, disseminando (a mim mesmo) por onde vejo possibilidades. E vejo muitas. As pessoas é que não veem. Acho que esse mundo esquisito está assim porque surgiram muitas coisas para competir comigo: vaidade, estética, tecnologia, baladas, este maldito Facebook! Tudo era menos antes. E era melhor, não só para eu cumprir o meu papel, mas para as pessoas também. Agora, vou ter um trabalhão para me adaptar "a essa nova realidade", como dizem as pessoas na TV. Ok, sou inteligente, perspicaz. Vou conseguir! Daqui a uns anos, acho que já estarei deslizando melhor por este novo mundo. Você vai ver. Não sou plano de carreira, mas me propus essa meta. Veja que ironia... Mas eu gosto de ser irônico. Está no meu DNA. Se você já me conhece, sabe. Quando cismo com uma coisa, vou até o fim. Vou até o fim para deixar o mundo mais feliz. Acredite, é por isso que existo.

A.

Natimorta

- Eu quero. Sim, eu quero. Mas, se demorar muito, você pode matar esse meu querer.
Foi como profecia. Ela queria mesmo, mas demorou muito. A vontade morreu. Foi assassinada. O lamento dela foi antes da morte da vontade. O dele, depois.