sexta-feira, 13 de março de 2015

Azar de todo o dia

Salada de frutas estragada
Rabanete na salada
Espinho de peixe embrulhado na comida
Café frio de sobremesa
Um gosto de água química na boca
Hoje é sexta-feira 13

quinta-feira, 12 de março de 2015

Aniversário da Mulher

Mesmo sendo data repetida todo o ano, neste foi que eu pensei no aniversário da minha mãe, que é hoje, de uma forma diferente. Foi a primeira vez que olhei com interesse o fato de ser na mesma semana do Dia da Mulher. Talvez por causa do Dia da Mulher tão diferente que tivemos, com um encerramento tão melancólico no Brasil, uma manifestação que deveria ter conotação política, mas que foi tão e somente sexista e provocou reflexões de todo o tipo. Acho que ainda não digeri o Dia da Mulher de 2015 no Brasil. Ao mesmo tempo, não me sinto à vontade para falar especificamente dele. Não sei ainda se estou tão evoluída para acatar determinados retornos que porventura vierem.

Sei que, embora hoje seja o aniversário da minha mãe, não paro de pensar é na função social de mulher que ela exerceu durante toda a vida. Em como, nas atitudes e nas palavras, ela agiu e foi protagonista, sem qualquer intenção de ser ou sem nem saber o que o conceito significaria nesse caso. Somente sendo. Vindo de uma família conservadora e linha dura e saindo para a vida para ser dona do nariz ao cumprir a missão que acreditava ser dela.

Até nos discursos “conservadores”, minha mãe, paradoxalmente, exercia a função social. “Eu quero que vocês se casem e tenham filhos”, dizia, mas emendando: “eu quero que vocês estudem e trabalhem. Ganhem o próprio dinheiro e nunca dependam de homem nenhum”. Crescemos, eu e minha irmã, com palavras assim da nossa mãe ecoando em nossas mentes. Nunca planejamos ou arquitetamos prioritariamente nos casar, mas tínhamos certeza de que iríamos estudar muito, trabalhar, ganhar nosso dinheiro e, Deus queira, jamais depender do dinheiro de ninguém – nem de homem nem de mulher.
Além da função social como mulher, a função social como ser humano/social. Essa, que fez com que muita gente conhecesse a dona Flor. Flor acolhedora, de mão estendida, pronta para dividir o que tem – e o que não tem também, sem problema. Dividir o que tem, sentar ao lado dos pobres, orar pelos doentes, atender sem olhar a quem, priorizar o outro.

É estranho priorizar o outro na sociedade do eu e das senhoras ou senhores que não querem esbarrar em ninguém na poltrona do avião. É estranho porque perdemos a referência do que é valor – se é que já o tivemos algum dia. Não há uma lista fechada do que é valor, mas talvez possamos refletir sobre o que não deve ser valorizado. E uma coisa que eu talvez gostaria que não fosse valorizada é o sentimento de ser melhor que alguém. Retomando até passagens bíblicas que a minha mãe, a dona Flor, sempre gosta de citar: “do pó, foste, ao pó, voltarás”. Não conheço ainda ninguém que não tenha morrido, virado alimento para micro-organismos (para ser elegante na nomenclatura) ou cinza em algum forno de cemitério.

Mas hoje é o aniversário da minha mãe. Este texto era só para dar parabéns à dona Flor e agradecer por ela ter me mostrado, a vida inteira, que eu sou igual a todo mundo e que eu não teria privilégio nenhum com ela, nem mesmo por ser filha, e assim me ensinou a não esperar privilégio nenhum do mundo. Agradecer também por ter me ensinado a ser uma mulher forte, que, embora esteja achando difícil, tenta ignorar os xingamentos recebidos, como mulher, a partir de varandas de apartamentos.