quinta-feira, 2 de julho de 2015

Aos de supercoração

Era algum ano de dois mil e alguma coisa. Era a primeira vez que eu cobria a parada de 7 de setembro. Nunca fui ligada a celebrações oficiais, apesar de ter vivido as disciplinas de Moral e Cívica e Integração Social na escola. Quando fui, então, ver o desfile pela primeira vez, eu já tinha vinte e alguma coisa. Já era por ossos do ofício de jornalista. Nada agradável e feliz levantar domingo cedo para trabalhar, com aquela brisa de pós-agosto batendo forte na nuca e nas orelhas.

A avenida Afonso Pena toda fechada, esperando os carros antigos e novos das corporações e instituições. A multidão começava a se juntar. E eu pensando: “curioso isso, as pessoas gostam mesmo de ver o desfile”. Era atrás dessas pessoas que eu estava. Crianças, jovens, adultos, idosos, homens, mulheres. Quem veio de longe, quem era de perto. Muita gente que já tinha visto a parada, gente que nunca viu, que estava lá pela primeira vez, e gente que vai todo o ano, religiosamente. Eu não estava em nenhum dos casos, porque estava pela primeira vez não para ver, mas sentir. Sentir o sentimento do outro. Como jornalista, vivi isso muitas vezes, busquei outras tantas.

Começa o desfile. Carros e mais carros, fardas e mais fardas, condecorações, o palco das autoridades. Veteranos, novatos. Todo mundo lá celebrando a Independência do Brasil. Crianças com olhar vidrado e olhares vidrados como se de crianças fossem. Algumas corporações ganhavam mais atenção, outras menos. E só uma foi aplaudida do início ao fim, o Corpo de Bombeiros. Com seus carros vermelhos, seus integrantes corajosos. Homens que ocupam o papel de herói no país carente de heróis, nação sempre em busca de heróis e que tem falsos heróis fabricados a todo o momento. No país que é traído por seus heróis, que sofre as mais tristes manobras em benefício de alguém que não seja o povo.

Sem pedir para ser, sem forçar ser, os bombeiros são esses verdadeiros heróis. Para quem nunca viu o magnetismo das pessoas pelos bombeiros, isso tudo pode parecer conversa de um texto qualquer. Comprovar que não é conversa é fácil, o dia 7 de setembro está próximo. E os bombeiros estarão lá e serão os mais aplaudidos mais uma vez. Por quê? Porque, verdadeiramente, eles dão a vida pelas pessoas anônimas, desconhecidas, sem olhar a cor da pele ou o saldo bancário ou a beleza estética. São perfeitos? Não, são homens, e o fato de serem humanos os torna ainda mais especiais e heróis. Heróis sem superpoderes, mas de supercorações. Parabéns a vocês, homens de supercorações, pelo dia de hoje!

5 comentários:

  1. Fico feliz por saber que as pessoas admiram nossa profissão e reconhecem a importância de amparar o desprotegido. Obrigado pelo seu texto!! Espero que influencie as pessoas! TC Tibúrcio

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    1. Oi, TC Tibúrcio! Fico extremamente honrada por ter sua leitura. Vocês são fundamentais para nós, para a sociedade. Grande abraço! Venha sempre!

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  2. Ei Clau! Ótimo texto! Parabéns por sua sensibilidade e pela leitura poética da vida!
    Bjos, Ni

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    1. Obrigada, Ni, pela força que vc sempre me dá e por acreditar em mim. Beijo!

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    2. Obrigada, Ni, pela força que vc sempre me dá e por acreditar em mim. Beijo!

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