sábado, 30 de maio de 2015

De aniversário

Cheguei aos 35 anos. É metade de 70! Será que vivo até os 70? Como serão os próximos 35 é algo tão insondável como era insondável pensar no que foram esses velozes 35. Sei de nada não. Só que estudei, trabalhei, viajei, fiz amigos, que amigos!, assumi "missões" de vida, amei duas vezes, perdi as contas de quantas vezes me apaixonei e de quantos "homens da minha vida" eu encontrei. Muitos nem sonham com isso, rsrsrsrs. Me despedi muitas vezes, tentando soldar à minha vida aquilo que já não era dela. Mas tudo é aprendizado.

Tenho meus pais ao meu lado, meus irmãos, meus quatro afilhados, uma criança apadrinhada e uma família bacana, carinhosa e alegre, com os mesmos desencontros que fazem as famílias serem famílias. Na casa onde vivo, somos quatro: eu e meus três gatinhos. Na verdade, a casa é deles. Aceitei há alguns anos ser apenas uma visitante. Mas sinto que eles me amam e querem a permanência dessa hóspede meio negligente.

Não tenho o que me queixar do envelhecer. Tem sido generoso comigo e, aos 35 anos, me gabo de não ter cabelos brancos, o que permite que eu mantenha longos cabelos - acho que não combina cabelo grande com cabelo grisalho, mas isso é de cada um, e não curto pintar cabelo, e isso também é de cada um. Só para contrariar, ontem, reparando bem, vi que surgiu um cabelinho branco... Na sobrancelha. Que coisa, né? Mas de fácil conserto. Posso vencê-lo com uma arma pequena, leve e portátil chamada pinça. Se não, jogo um lápis para dar aquela coloridinhha.

O corpo vai mudando, mas a gente vai ficando mais feliz. Coisa esquisita. Acho que o se cobrar menos faz um bem danado para a vida. O muay thai foi ótimo para o meu corpo e para a minha mente, por isso tenho como meta voltar o mais breve possível à arte marcial do meu coração. Só passar a fase louca de transição que estou vivendo, para conhecer melhor a minha nova rotina (rotina???).

Não sei porque esta confissão. Na verdade, começou porque eu queria dizer que, se eu tiver algo de bom, eu tenho porque encontrei pessoas no meu caminho que fazem presença e diferença na minha vida "real" e por aqui também; para mim, as duas estão juntas, irremediavelmente. E que todo o carinho que eu recebi de vocês ontem, pelo aniversário e em muitos 365 dias da vida, fazem com que eu queira viver os próximos e próximos 35 anos para poder ter a chance de abraçá-los muitas vezes, trocar coisas boas com vocês, aprender sempre com o que de bom me trazem. E nunca me esquecer de agradecer por tudo. Obrigada, gente! A atenção de vocês ontem me deixou muito feliz, ter vocês é uma dádiva. Beijo, com amor, carinho e gratidão.

domingo, 24 de maio de 2015

Não vamos desistir*

Saí pensativa ontem de uma palestra na UFMG sobre o letramento crítico em língua estrangeira. Que é a possibilidade de, ao passar conteúdos de outros idiomas para os alunos, não se limitar a falar de viagens e comidas, filmes ou turismo, como é o mais comum de a gente ver por aí, especialmente nos livros de idiomas. Dois professores ministraram a palestra, ambos são de língua inglesa. Procuravam formas de valorizar o momento com os alunos, levar, em idioma estrangeiro, questões de cidadania, de direitos humanos, de igualdade de gêneros, de sexualidade, de homossexualidade, de racismo, de machismo... Esses assuntos que muitos professores evitam em sala ou até são proibidos de falar deles em determinadas instituições, presas que são ao conteúdo formal ou mesmo por escolha. Evitar polêmica e conflito é sempre mais fácil.

Mas esses dois professores estão lá, assim como muitos outros, nem todos em ambiente universitário, em jornadas quixotescas em busca de uma educação crítica, cidadã, humana ou humanizada, menos alienada. Além de estarem lá, tentam fazer diferente. São educadores. E isso me faz lembrar do tanto que essas atitudes estão se extinguindo. Não é culpa do profissional que opta pela educação. São tantos desestímulos que exigir do professor que ele se mantenha professor é muito e não é justo.

Na semana passada mesmo, a divulgação do dado de que a procura pelos cursos de licenciatura na UFMG caiu 90% em uma década, sendo que a evasão no curso de Matemática – a maior – é de 50%, é representativa, embora possa ter passado batida por muita gente[1]. Quer isso quer dizer que os alunos que estão ingressando na universidade não querem ser professores. As pessoas, em geral, não querem ser professores. Não querem, fogem disso.

Não era para ser um dado a passar batido entre leitores, entre a sociedade. A gravidade é tanta que, continuando nesse ritmo, em cinco anos, não deverá haver mais ingressos em cursos de licenciatura. Sim, e os professores atuais, os que permanecerem, e os que estão em formação, se continuarem, vão envelhecer, vão se aposentar, vão morrer. E quem vai enfrentar as salas de aulas? E quem vai assumir o ensino para as nossas crianças?

A discussão é muito mais profunda, porque vem de outro fator que também se reflete em sala de aula, que é a questão familiar. O esvaziamento do papel dos pais na educação dos filhos, não só por negligência, mas também pela maior atuação deles no mercado de trabalho e também pela nova formação familiar, não exclusivamente pai-mãe, mas mães somente, pais somente, avós somente, irmãos somente, ou seja, uma única pessoa responsável pelo sustento e pela educação da criança. Todos esses fatores que contribuem para o esvaziamento da presença da família na educação e amplia o papel do professor com relação à criança – educação formal, informal, supressão de carências e atenções. Um(a) segundo(a) pai-mãe? Uma missão, sem dúvida. Quem vai querer?

E é isso. Os professores não estão querendo. Até porque, além do papel ampliado em sala de aula, deparam-se com alunos – crianças, adolescentes, jovens – complexos, frutos de famílias nem sempre estruturadas, vivendo em uma sociedade estimulada por meios digitais e por atos de consumo e, ainda, muitas vezes, sendo desconhecedores de limites, noções de respeito ao outro. Somada a isso, a histórica trajetória de desvalorização e sucateamento da carreira do professor, o adoecimento físico e mental que esses aspectos provocam.
Quem vai querer? Ninguém, ou poucos resistentes, está querendo, e nossas crianças estão sofrendo de uma dupla orfandade, um abandono por parte da família e agora um abandono por parte dos professores. Muitos pais já desistiram delas. Professores, não vamos também desistir das nossas crianças.

(*) Notas de uma futura professora.


[1] MUZZI, Luiza. Baixa procura e evasão acendem alertas na UFMG. Jornal O Tempo, Belo Horizonte, 18 maio 2015. Cidades. Disponível em: http://www.otempo.com.br/cidades/baixa-procura-e-evas%C3%A3o-acendem-alerta-em-licenciaturas-na-ufmg-1.1040448>. Acesso em: 24 maio 2015.