sábado, 12 de abril de 2014

Ao Man oA

Nascemos no mesmo lugar, do mesmo lugar. Crescemos, nos criamos nele. Eu não sei quando e como esse lugar se separou tanto que nos distanciou de uma forma que me assusta e me dói. Porque eu queria te dizer que eu sempre quis te amar ou poder te amar de uma forma que você nunca permitiu. Que a gente não é capaz de reescrever a própria história, nem mesmo escrevê-la, mas eu gostaria. Que tudo fosse diferente. Que tudo fosse diferente. Que eu pudesse contar com a sua força, a segurança que você seria capaz de me passar e que eu nunca tive. Os sentimentos existem. Para todos os lados, eles existem. É comigo, é com você. Mas possivelmente de formas diferentes. Formas que eu jamais poderei decifrar. Dói não te ter como parte de mim. Mais que biológica, de sangue. Dói não te ter como parte da minha vida, do que é meu e é mais que físico, que é alma, amor, sentimento. O amor nasceu conosco. Não vai nos deixar, mas seria mais feliz se o seu e o meu se conhecessem.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Hoje eu te homenageio

Para cada pessoa que você perguntar, haverá uma resposta a respeito do motivo que a levou a ser jornalista. Uns não vão nem saber qual. Esse talvez seja meu caso. Por algum motivo, o jornalismo foi nascendo em mim até se transformar em uma das minhas grandes razões de viver. Muito por causa do meu pai, que não é jornalista nem sequer atua na área das ciências sociais ou humanas, mas tem paixão por ler. E não só. Por investigar histórias, por conhecer mais e por repassar informações. Foi por causa dessa paixão dele que eu descobri os livros bem cedo e de uma forma muito intensa.
Li livros, quadrinhos, revistas, outdoor, adesivos, placas de lojas, placas de carro. Tudo o que aparecia à frente. E jornal. Impresso, com tinta nos dedos. A família assinava o jornal Hoje em Dia – isso daí já foi iniciativa da minha mãe. Foi o que me fez conhecer o meu inspirador na carreira jornalística. É estranho, mas foi Roberto Drummond quem deu aquele “start” em mim: “opa, acho que quero ser jornalista”. Ele nem era mais, mas escrevia crônica em jornal diário e tinha um passado de certa expressão no jornalismo – chegou a ganhar o prêmio Esso duas vezes.
Suas crônicas expressavam coisas cotidianas, tão simples. Me dava uma curiosidade, todo o dia pela manhã, enquanto tomava café para ir à aula, ver sobre o que ele estava falando. Que passarinho ele tinha visto, que moça na rua, que olhos perdidos, que filme, que livro, que, que, que... Comecei a achar incrível, lindo, isso de ver as coisas e escrever sobre elas. Vai que alguém gosta? E se alguém gostar? Eu via que Roberto Drummond não era unanimidade, muita gente criticava seus textos, especialmente seus livros. Fui ler. Li uns quatro, cinco. Gostei de todos, mesmo os mais “bobinhos”. Conclusão: eu gostava dele. Apesar de detestar todas as vezes em que ele escrevia sobre o Atlético-MG.
A vida, irônica que é, iria me dar presentes num futuro muito próximo. Minha irmã entrou para a faculdade em 1997 e teve como colega de turma a filha de Roberto Drummond. Acabamos fazendo uma amizade passageira, conversávamos um pouco por telefone. No primeiro semestre de 1999, eu entrei para o curso de Jornalismo, na PUC Minas. Tinha um trabalho a fazer, uma entrevista com uma personalidade. Claro que escolhi Roberto Drummond, que havia ficado mais famoso nacionalmente por causa do sucesso estrondoso da minissérie “Hilda Furacão” (1998), na TV Globo, baseada em sua obra homônima.
A filha dele e a minha irmã foram a ponte para o encontro. Era a primeira entrevista da minha vida, com meu inspirador no Jornalismo. Levei gravador e um roteiro de perguntas. Ele me recebeu na área de lazer do prédio em que morava, na Savassi – claro, a região era sua paixão, uma das. Ele me recebeu tão bem e tão à vontade que acabei me desprendendo do roteiro de perguntas e aprendendo que a entrevista pode ser uma conversa, e é até bom que seja. Foi minha primeira lição prática.
Ao final, Roberto Drummond me deu um livro com bastidores e fotos da minissérie “Hilda Furacão”. Lindo, bem lindo. Eu, tímida ainda, não pedi para que o autografasse para mim. Três anos depois, meu inspirador morreu; seis anos depois, comecei a trabalhar no Hoje em Dia. Fiquei sem a assinatura no livro. Ficou a assinatura na vida.