quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mundo paralelo

Estive no estado do Amazonas nos últimos dias. Viagem a trabalho, para o interior do estado. Em breve, vocês vão poder ler o material na revista em que trabalho. Ainda estou mexida com tudo o que vi por lá. É lindo, mas incômodo estar lá. Eu sabia que estava no meu país, mas me faltava o sentimento de pertencer àquele meio. Ou, então, eu me sentia um pouco "culpada" por viver em um mundo diferente sendo do mesmo lugar, apesar de distante. Foi estranho, mas foi único. Foram dias muito especiais e, apesar de todo o estranhamento, eu saí com a vontade de ficar. Saí com a vontade de voltar.

Pinte um pássaro

Recebi do meu amigo Marcos a poesia abaixo, depois que publiquei o texto "Que pássaro". Achei lindo o texto e quis compartilhá-lo com vocês. Espero que gostem. Vale muito a pena ler.


Para pintar o retrato de um pássaro

Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta
pintar depois
algo de lindo
algo de simples
algo de belo
algo de útil
para o pássaro

depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta

esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer…

Às vezes o pássaro chega logo
mas pode também ser que leve muitos anos
para se decidir

Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tendo a ver
com o sucesso do quadro

Quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro

Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro

pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar

se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim

mas se cantar bom sinal
sinal de que pode assiná-lo

Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro

Jacques Prévert