terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mundo cabisbaixo

As pessoas hoje andam olhando para baixo. Eu estava longe, viajando, e vi que o comportamento se repete em todo canto: ruas, metrôs, ônibus, avião (antes da decolagem), mesa de bar... Olham para seus supertelefones, cheios de recursos, conectados às redes sociais.
Não olham mais no olho, não conversam olhando no olho, observando os gestos, as expressões, os sorrisos. Conversam só com o ouvido e a fala, sem o olhar, a observação, que diz tanta coisa. Perdem com isso, muitas vezes, as coisas mais importantes do encontro. Veem menos, mas se contentam com isso em favor do que está no supertelefone.
Deixam de ver um olhar de afeto, de surpresa, de carinho, de frustração, de expectativa. Em uma viagem de trem, uma moça à minha frente passou três horas olhando para baixo, para o celular... E, do lado de fora, havia paisagens lindas, lindas, que ela não viu. Não sei se um dia ela vai passar por lá de novo, mas, naquele dia, com aquele sol, ela não viu. Isso é só um exemplo. Uma pena. A vida oferece tanto para que a gente a veja somente pelo retângulo de um supertelefone...

6 comentários:

  1. ... olho no olho. Como é raro. Paradoxo: quanto mais o mundo oferece "supertelefones, cheios de recursos, conectados às redes sociais", mais as pessoas se escondem. De quem? Sei que os olhos são a janela da alma... "E do lado de fora, havia paisagens lindas, lindas, que ela não viu. Não sei se um dia ela vai passar por lá de novo, mas, naquele dia, com aquele sol, ela não viu".

    Cláudia, então pensaremos juntos.
    Um abraço
    Marcos Nonato

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  2. Concordo com você, Marcos. Há um paradoxo nisso tudo. Viver a vida virtual talvez seja mais fácil que olhar as pessoas olho no olho. Pode haver mais risco na última experiência, mas é tão mais linda e rica. A gente pode ver o ruim, mas o bom, com certeza, é sempre maior. Nada paga um sorriso com os olhos, não?
    Abraço!

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  3. "Sou uma filha da natureza:
    quero pegar, sentir, tocar, ser.
    E tudo isso já faz parte de um todo,
    de um mistério.
    Sou uma só... Sou um ser.
    E deixo que você seja. Isso lhe assusta?
    Creio que sim. Mas vale a pena.
    Mesmo que doa. Dói só no começo."

    Clarice Lispector

    Ela diz tudo né?! Viver de fato, olhar nos olhos,tocar.... é mais difícil,como você disse "...pode haver mais risco na última experiência, mas é tão mais linda e rica."
    Abraço!!!

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  4. Clarice é demais! Obrigada por ter colocado esse texto dela aí em cima, enriquecendo o blog. É, linda, as pessoas andam com medo demais e se escondem demais. Com isso, também perdem demais. Em muitos pontos, continuo como à moda antiga. E um deles é este: o da experiência com o outro.
    Bjão!

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  5. Nos últimos anos, nossa sociedade vem passando por desgraças inimagináveis por muito de nós,complexo de Édipo e Electra,psicopatas,
    sociopatas e tantas coisa bizarras que vem catalogando essa decadente humanidade.O medo gera reclusão.
    O ponto que quero alcançar é que talvez a culpa não seja da tecnologia, e sim do que estamos nos transformando, mas é fato que a tecnologia auxilia nessa involução.

    Sorry pelos possíveis erros ortográficos, mais fica meus pensamentos.

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  6. Também acho, Vi, que a culpa não é da tecnologia, não. Aliás, nem dá muito para a gente falar em culpa, né? Estamos em um processo, e a tecnologia é uma ferramenta que nos ajuda a melhorar em muitos aspectos. O homem é que, muitas vezes, não sabe medir isso e substitui o que é do homem pelo que é da máquina. A tecnologia favorece os relacionamentos, mas pode também criar barreiras, como ocorre no "mundo cabisbaixo".

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