segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A ela

Toda vez que eu passo por ela, eu a vejo trabalhando. Forte, de braços com músculos definidos, ela não poupa o físico que possui ou que desenvolveu/buscou ao longo da vida: lava carros o dia inteiro. Nos intervalos de almoço, faz entrega de marmita. Quando encerra a jornada de lavar carros, vai entregar mais marmitas. Carrega, nas costas, alguns quilos, a comida dos clientes. O que mais ela leva nas costas? Um rastro de preconceito, a discriminação que deve receber a cada esquina?
Possivelmente, ela já foi alvo de muitos olhares tortos. Usa cabelo raspadinho, o que exibe o rosto bem-desenhado que possui. Não se veste de maneira feminina, dentro do "padrão". Mantém a autenticidade, não se desvirtua do que é, exerce as atividades em que acredita que se sai bem. E trabalha, trabalha. Dia e noite, de uma forma admirável.
Em uma das suas entregas de marmitas, eu digo: “como você trabalha, hein, menina? Vai ficar rica!”. Ao que ela me responde, de um jeito tímido, meio cabisbaixa, sem olhar diretamente nos olhos: “rica, não precisa, mas, passar fome, eu não passo. Trabalho, tem muito por aí, quem fala que não tem tá mentindo”.
Com a energia e a vontade de trabalhar que tem, ela não vai passar fome, não. E, se há quem a olhe torto, pelo que ela é, como se veste ou o que faz, há um mundo que a admira.
E eu te admiro imensamente. Queria ter te falado isso na nossa conversa rápida entre marmitas. Não falei, mas acho que você entendeu. Parabéns, ela!

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