segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Fique longe de nós

Torço para que, àquela altura da noite de domingo, já entrando a madrugada, a audiência estivesse baixíssima. Que o número de pessoas sentadas nos sofás de casa tenha sido o mínimo. Que a “família” brasileira estivesse dormindo. Que os amantes estivessem se amando, de todas as formas, gêneros, números e graus. Que qualquer coisa fosse mais importante e tirasse as pessoas de frente à televisão. Assim, elas não veriam a agressão ao vivo e em cores no debate dos presidenciáveis organizado pela TV Record. A agressão que machucou, que feriu, que assustou, que deixou a gente incrédulo.

Até pouco tempo, o candidato do bigode, já figura tão conhecida do eleitorado brasileiro, devido às 12 eleições que disputou – todas com votação pífia, insuficiente para que fosse eleito –, era, para mim, o “viajante solitário de ideias mirabolantes”. Aqui, neste espaço mesmo, eu dei essa “denominação” a ele devido às ideias incríveis que apresentava, como o famoso aerotrem.

Nunca foi agressivo você ter ideias incríveis e irrealizáveis, embora estivesse, de certa forma, tentando enganar os eleitores. Ok, é perdoável, até porque você jamais seria eleito a qualquer coisa – pensamento do eleitor.

Nunca foi agressivo você ter ideias conservadoras, assim como também não podem ser as ideias progressistas. A democracia dá o direito de expressão, para todos os lados.

Até quando você disse que iria “bombardear uma adversária”, não foi agressivo, foi levado para o lado jocoso, cômico, que é o que você passou a ser para os eleitores e para os telespectadores: a comédia, a garantia de risos com as pérolas que lançava.

Você deixou de ser cômico e engraçado. E perdoado. Ainda que, por toda a vida, tenha tido ideias absurdas sobre as relações homoafetivas, se não queria ampliar um pouco a mente, você deveria tê-las guardado para si. Jamais usar o espaço democraticamente cedido a você, mesmo com a baixa expectativa de voto que tem, para destilar ódio contra qualquer pessoa ou grupo.

É de você e de pessoas que alimentam a violência contra o outro que queremos distância. Você e pessoas como você fazem os meus amigos, as pessoas que eu amo e tantos desconhecidos que eu respeito serem rejeitados em casa e na sociedade, apanharem na rua, terem de viver escondidos e serem abolidos do mapa social em muitas questões e direitos.

Eu não gosto mais de você. Eu quero que você perca pela 12ª vez nas urnas, que continue sendo um viajante solitário de ideias mirabolantes, mas que agora receba pelo menos 1% da hostilidade que as pessoas atacadas por você sofrem na pele. Que você continue gastando seu dinheiro à toa nas campanhas. Reme, reme para chegar a lugar nenhum. Que, quando você for à Mutum, cidade mineira onde você nasceu, as pessoas gargalhem na sua cara. Que, ao se sentar em um restaurante ou sorveteria – um típico programa da família brasileira –, quem estiver ao lado se levante e olhe torto para você e seus familiares.

Se passar uma vez por uma dessas situações, pode ser que você pense um pouco no que anda disseminando por aí, porque pensar parece ser coisa que você não tem feito, embora conste que você é jornalista e publicitário. E, se pensar e ver que a luta tem de ser por mudanças, por aceitação das diferenças, por respeito e amor ao próximo, por proteção das pessoas e pelo direito à vida e a à integridade física e moral, pode ser que um dia perdoemos você de novo. Agora, exatamente agora, estamos magoados e queremos distância de você.

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