Pense em um dia passar um Carnaval tranquilo, com família, filhos, se tiver, para viver alguns momentos curtindo marchinhas e sambas antigos. Existem lugares que permitem esse tipo de divertimento. Vou falar de um lugar em especial. É de onde estou agora, escrevendo este texto. Mariana, na Região Central de Minas. Muito conhecida pelo caráter histórico, a vizinha meio esquecida de Ouro Preto, sempre tão lembrada, prestigiada e visitada. Mariana também é, mas muito menos que a vizinha, a irmã colonial.
Vim para cobrir o Carnaval das duas irmãs. Ouro Preto, todos sabem, "bomba". Muitos jovens, turistas, todos se embriagando em repúblicas ou nas ruas mesmo. De uns anos para cá, a cidade tem descentralizado o Carnaval, por exigência do Ministério Público, que quer a confusão um pouco mais longe do Centro Histórico. Com isso, surgiram espaços - para axé, para hip-hop etc. O folião escolhe o que quer curtir.
Há opções de Carnaval mais tradicional também, porém, bem menos procurados. Tenho que ser justa e fazer uma referência e uma reverência para o Bloco dos Candonguêros, que, há quatro anos, dissemina o Carnaval antigo pela cidade nos quatro dias de festa. E tem outra missão, que também é louvável, de mostrar às pessoas o que acontece na Ouro Preto moderna. Afinal, a cidade existe para além do período colonial e da extração do ouro que atraiu a população para lá. Interessante a proposta de lembrar que, nos anos 60 e 70, a cidade tinha um importante movimento carnavalesco, que ninguém se recorda hoje. Este ano, o bloco fez homenagem a um homem que andava pela cidade, dizendo que era "Traficante de ideias". Era o Bené da Flauta. Gostei disso. "Traficante de ideia". Vou pensar mais sobre o significado da expressão e o motivo de alguém se auto-intitular assim.
Mas, voltando a Mariana, tenho que fazer uma ressalva. Participar do Carnaval antigo na cidade é algo que se faz até, mais ou menos, uma hora da manhã, no máximo, aliás. Depois, o melhor é se refugiar em casa, pensões, pousadas, hotéis porque começa o axé music, o funk, o sertanejo e outros ritmos, que eu nem consigo decifrar. Para quem não gosta, fuja! Até porque o clima não é dos melhores. As pessoas já estão altinhas...
O melhor é começar a folia junto com a programação. Por volta das 15 horas da tarde, os blocos tradicionais da cidade começam a desfilar. Impossível não falar do Zé Pereira, com os bonecos gigantes, que já encantam a multidão há 160 anos. Isso mesmo! Podem se impressionar. O bloco tem muita história e é com muita vontade que os componentes mantêm a tradição. São todos voluntários no projeto. Todos os anos, estão lá os bonecões, colorindo a cidade.
Além dele, há movimento durante todo o dia. Muitos pais com seus filhos passeiam de um lado pelo outro pelo circuito carnavalesco alegremente enfeitado com adereços pendurados no alto. Caixas coloridas trazem imagens de carnavais passados. Serpentinas rodopiam no ar, formando uma bela imagem junto com a luz dos postes.
O clima é muito tranquilo. As pessoas se sentem à vontade para brincar o Carnaval, em sua forma mais inocente. No coreto da praça, já é noite, e uma banda toca marchinhas sem parar. Todo mundo dança, canta, acompanha os músicos. Isso quer dizer uma coisa (entre tantas): as pessoas gostam do Carnaval à moda antiga. Não que a folia com outros ritmos não deva existir. Claro que sim. Mas é necessário ter opções. Os seres precisam de opções. Somente quando se tem oportunidade de ver outras coisas é que se pode escolher.
Por que limitar a certos tipos de música e a algumas festas consagradas e prestigiadas pela mídia. Será que o que passa na televisão é o que o povo quer ver mesmo? Essa história de impor o que as pessoas devem ver é muito complicada. Há festas que têm todo o destaque da mídia durante o Carnaval, mas que, na verdade, poderiam acontecer em qualquer época do ano porque não têm a ver de forma direta com o Carnaval. Mas a festa com marchinhas, não. Ela tem um gosto todo diferente durante o período momesco. Vejam: tem algo que combina mais com confetes, serpentinas e máscaras que as marchinhas? Todo o espaço a elas!
Segue o comentário da Cinthya Oliveira, do Blog "Eternas Metamorfoses" (link ao lado), que, por um biziu do Blogger, não consegui postar seu comentário, assim como não consegui, no mesmo dia, postar um para ela. Vai entender os panes da tecnologia... Segue:
ResponderExcluirClaudinha, também acho as tradições de Ouro Preto e Mariana bem legais. É muito legal ver aquelas bandas que tocam pelas ladeiras (pessoal têm muito fôlego). O chato é ter que aguentar a cariocada andando de sunga pela cidade, nos impondo o funk e o axé. O funk até é legal, mas lá no Rio. Já o axé... não gosto nem na Bahia... Não repreendo as pessoas que gostam de um Carnaval assim, só mantenho a distância. Vai demorar para eu passar o Carnaval em Ouro Preto de novo.